Vivemos uma crises econômica. Todos os dias nas diferentes mídias temos informações sobre isso. Mas se já não bastasse este grave fato, outro problema se faz igualmente presente com igual ou ainda maior efeito devastador que a crise econômica. A crise na saúde mental/emocional desencadeada pela crise econômica.  Esta crise mental/emocional, que por não ser divulgada é menosprezada e/ou desconsiderada até o momento em que se faz presente mediante seus efeitos na saúde física e mental, gerando depressão ou ansiedade além de outras doenças físicas.

Um declínio na atividade econômica traz consigo aumento do desemprego, exclusão social, pobreza, diminuição nos investimentos governamentais em saúde, saneamento, segurança, etc. que acabam por afetar a qualidade de vida da população,

Diferentemente da questão econômica, que se faz sentir de forma relativamente rápida e perceptível, a queda na qualidade de vida, resultando da crise, tem seus efeitos de forma mais sutil e demorada, com consequências reversíveis ou não e com gravidade maior ou menor sendo muitas vezes manifestada de forma diferente em cada indivíduo.

No Brasil, país tradicionalmente pobre em pesquisas científicas, não se tem dados e estudos fartos e disponíveis  vinculando problemas mentais/emocionais à períodos de crise   econômica. Estudos europeus são de mais fácil acesso, entre eles pode-se citar estudos feitos recentemente na crise grega, onde dados apontam para cortes orçamentários em saúde de 40%, aumento de doenças infecciosas, aumento infecções HIV, aumento de toxidependentes e da violência, como citado em artigo PSICOLOGIA, SAÚDE &DOENÇAS, 2015, 16(2), 267-277 de José A. P.J.  Antunes.

É importante ressaltar que a exposição por tempo prolongado à situações estressoras como no caso desta crise econômica que se instalou no Brasil, com perspectivas de analistas otimistas de durar até meados de 2017 pelo menos, ocasionará perda significativa de diversos parâmetros imunológicos além de aumento de doenças e mortes por problemas cardíacos, aumento de uso de drogas lícitas e ilícitas, aumento de violência, aumento suicídio, queda na educação, queda em conceitos de cidadania (que já é baixo), etc. o que no todo virá a gerar um estado de medo e com ele  ANSIEDADE e DEPRESSÃO.

Em períodos de crises econômicas vividas por uma nação, é de extrema importância que o governo assuma para si as questões sociais priorizando minimizar seus efeitos sobre a população, particularmente a de menor poder aquisitivo mantendo e aprimorando questões de saúde, educação, segurança e laser. Mas no caso do Brasil, a crise econômica se instala pela incapacidade gerencial dos governantes e junto ainda a uma crise política, o que impossibilita tais ações contentoras e redutoras dos efeitos negativos sobre a população, além dos já vividos em nível econômico.

Dentro do viés de entendimento da Psicologia Evolucionista, considerando-se o ser humano como animal primata Homo sapiens sapiens, que, ao deparar-se frente à situações de medo e riscos, busca rapidamente o aumento do convívio e proteção do bando. Podemos ter aqui um dos procedimentos a serem adotados para o apaziguamento ou ao menos a redução destes medos geradores e desencadeadores tanto de estados de ansiedade como de depressão, isto é, buscar o fortalecimento de laços afetivos e sociais, redução de exposição a fatores estressores que vai desde evitação de ambientes agitados e agressivos até reavaliação de conceitos e valores instalados  desencadeadores de tensão.

Estes ambientes e situações de medo e tensão desencadeiam produção de cortisóis que por suas vez inibem a produção de serotonina. A serotonina, é um neurotransmissor atuante tanto em nível do Sistema Nervoso Central (SNC) como do Sistema Nervoso Periférico (SNP). Através do SNC, a serotonina controla o estado de alerta, o ciclo do sono, o humor e o modo como o cérebro processa informações sensoriais e as emoções, além de participar efetivamente nos processos cognitivos. Dados fornecidos pela Phitofarma, mostram que de janeiro à março deste ano, houve aumento nas vendas de 20% para as medicações redutoras de ansiedade.

Temos assim, um quadro preocupante e crescente em gravidade instalado no Brasil, que deveria receber um olhar muito além do apenas político/econômico e que exige medidas preventivas e corretivas imediatas no intuito de se conter possíveis danos mentais e físicos nos indivíduos.

Assim como as medidas para a contenção da crise adotada pelo governo estão caminhando por direções errôneas, isto é, não se buscando investimentos em saúde, educação e segurança, mas sim buscando-se arrecadar mais e gastando-se menos como meio de se economizar dinheiro de forma indistinta, até mesmo em detrimento à própria população, também as pessoas no geral, fazem isso no seu dia a dia, isto é, deixam de investir em profissionais de saúde mental (psicólogos e psiquiatras) com a intenção de reduzir os gastos pessoais mas sem compreenderem a enorme perda mental, emocional e cognitiva que esta medida acaba por trazer, dificultando, agravando e até mesmo impossibilitando algumas vezes a saída ou redução dos efeitos da crise econômica.

Eduardo Biancalana é Psicólogo Clínico e Evolucionista e Palestrante

Email: eduardosbiancalana@gmail.com